Ensaios sobre fotografia, de Susan Sontag
Janeiro 06, 2024
“A necessidade de comprovar a realidade e de engradecer a experiência através das fotografias é uma forma de consumismo estético a que todos nos entregamos. As sociedades industriais transformam os seus cidadãos em viciados de imagens; trata-se da mais irresistível forma de poluição mental. Um vivo desejo de beleza, de acabar com a investigação do que se encontra por baixo da superfície, da redenção e celebração do corpo do mundo – todos estes elementos da sensação erótica se afirmam com o prazer que as fotografias nos dão. Mas também aí se encontram outros sentimentos menos libertadores. Não seria errado falar de pessoas com uma compulsão para fotografar, transformando a própria experiência numa forma de visão. Em última análise, ter uma experiência é o mesmo que fotografá-la, e participar num acontecimento público é cada vez mais equivalente a vê-lo fotografado. Mallarmé, o mais lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo o que existe no mundo existe para vir a acabar num livro. Hoje em dia, tudo o que existe, existe para acabar numa fotografia.”
excerto de Na caverna de Platão, primeiro ensaio encontrado em Ensaios sobre fotografia, de Susan Sontag (escrito nos anos setenta, bem antes das redes sociais)