Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Leituras Improváveis

um registo digital

Leituras Improváveis

um registo digital

Nada a temer, de Julian Barnes

Maio 31, 2024

jbarnes.jpg

A consciência da morte estará ligada ao facto de eu ser escritor? Pode ser. Mas, se é asssim, não quero saber nem investigar. Lembro-me da caso de um comediante que, após anos de psicoterapia, compreeendeu finalmente porque é que precisava de ser cómico; e quando compreedeu, parou. Por isso eu não quero arriscar. Mas consigo imaginar uma daquelas opções do estilo "preferimos o quê". "Mr. Barnes, estudámos o seu caso e concluimos  que o seu medo da morte está intimamente ligado aos seus hábitos literários que não passam, como para muitos da sua profissão, duma reacção banal à sua condição mortal. Inventa histórias para que o seu nome e uma incálculavel percentagem da sua individualidade continue após a morte física, e essa esperança traz-lhe algum consolo. E mesmo que intelectualmente tenha percebido que pode ser perfeitamente ser esquecido antes de morrer, ou logo a seguir, e que todos os escritores acabarão por ser esquecidos, assim como toda a raça humana, ainda assim parece-lhe que vale a pena. Não podemos ter a certeza se escrever é para si uma reacção visceral ao medo racional ou uma reacção racional ao medo visceral. Mas tem aqui uma coisa para pensar. Aperfeiçoamos uma nova operação ao cérbero, que elimina o medo da morte. É um procedimento singular que não necessita de anestesia geral - pode, aliás, seguir o resultado no monitor. Não perca de vista o ponto luminoso cor de laranja e veja-o esbater-se gradualmente. Mas é claro, descobrirá que a operação lhe tira a vontade de escrever; muitos dos seus colegas, porém, optaram por este tratamento e acharam-no benéfico. No geral, a sociedade também não se queixou por haver menos escritores.

excerto de Nada a temer, de Julian Barnes (Quetzal)

"Everybody's doing it"

Maio 29, 2024

lm.jpg

Children have played a huge role in tobacco advertising over the decades, and images of children fulfill multiple purposes for tobacco advertisers. Particularly in the Baby Boomer era, depictions of children with their mothers or fathers in cigarette ads reinforced the respectability of smoking as a part of normal family life, a perception often promulgated by the tobacco industry. Further, the images of youngsters tended to send a reassuring message to consumers about the healthfulness of the product, representing purity, vibrancy, and life – concepts which can be dangerous when tied to tobacco products. Finally, these depictions of children were an obvious ploy to attract females to smoking as part of the industry’s campaign to expand the pool of women smokers.

source: Stanford Research Into the Impact of Tobacco Advertising (SRITA)

The Stanford Research into the Impact of Tobacco Advertising (SRITA) collection currently contains 62,547 tobacco advertisements.

 

A era do capitalismo de vigilância, de Shoshana Zuboff

Maio 24, 2024

zubboff.jpg

Do ponto de vista vantajoso do capitalismo de vigilância e dos seus imperativos económicos, o mundo, o "eu" e o corpo reduzem-se ao estatuto permanente de objectos, desaparecendo na corrente sanguínea de um novo e titânico conceito de mercado.

A máquina de lavar dele, o pedal do acelarador do carro dela e a flora intestinal do leitor colapsam numa única dimensão de equivalência, transformados em bens informacionais, sujeitos a desagregação, reconstituição, indexação, navegação, manipulação, análise, reagrupamento, previsão, produção, compra e venda: em qualquer lugar, a qualquer hora.

excerto de A era do capitalismo de vigilância, de Shoshana Zuboff (Relógio d'Água)

Um molho de bróculos?

Maio 23, 2024

ler.jpg

Ler tornou-se um problema, ou sempre foi - embora por motivos diferentes?

Se há algumas décadas as famigeradas bibliotecas itinerantes procuravam resolver um problema de acesso, hoje a questão não é mais de escassez, antes de excesso de oferta de livros (e minguante procura?). E concorrência de outras formas de consumir a nossa atenção.

A ubiquidade de dispositivos digitais veio complicar a tarefa de educadores (pais e professores). Deixamos de ter de praticar actividades em série (uma a seguir a outra) para poder fazê-lo em paralelo (em simultâneo), prejudicando não raras vezes o foco, as rotinas e os hábitos. Por exemplo, no passado seria impensável carregar uma televisão debaixo do braço para a cama, mas hoje é possível adormecer com um smartphone,  enquanto se "engolem" videos de curta duração, fazendo compras on-line, e falando/trocando mensagens com amigos madrugada dentro.

O paroxismo da era digital, com as suas infinitas solicitações sem hora marcada - e respectivas consequências nos mais jovens, é relatado com veemência pelo neurocientista Michel Desmurget em A fábrica de cretinos digitais. A questão está longe de ser consensual, como prova este podcast sobre o livro (muito interessante e com diferentes pontos de vista). Entretanto, Michel Desmurget volta à carga com: Faites-les lire ! Pour en finir avec le crétin digital. (Será editado em breve no nosso país). A aposta na expressão cretino digital, um chamariz nos escaparates, no entanto, pode infelizmente aplicar-se também a graúdos.

No meio está a virtude, dizem, mas é cada vez mais difícil aceder a ela sem uma boa dose de autodisciplina, dadas tantas tentações na palma da mão.

 

Pág. 1/3

Balde do lixo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Signal

Join the Resistance: Subscribe to The Borowitz Report Today.

Ad Busters

CartoonMovement