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Leituras Improváveis

um registo digital

Leituras Improváveis

um registo digital

A ouvir

Março 31, 2025

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Confidence is a preference for the habitual voyeur of what is known as (Parklife)
And morning soup can be avoided if you take a route straight through what is known as (Parklife)
John's got brewer's droop, he gets intimidated by the dirty pigeons, they love a bit of him (Parklife)
Who's that gut lord marching? You should cut down on your porklife mate, get some exercise

All the people
So many people
And they all go hand in hand
Hand in hand through their parklife
Know what I mean?

I get up when I want, except on Wednesdays when I get rudely awakened by the dustmen (Parklife)
I put my trousers on, have a cup of tea and I think about leaving me house (Parklife)
I feed the pigeons, I sometimes feed the sparrows too, it gives me a sense of enormous wellbeing (Parklife)
And then I'm happy for the rest of the day, safe in the knowledge there will always be a bit of my heart devoted to it

All the people
So many people
And they all go hand in hand
Hand in hand through their parklife

Parklife (Parklife)
Parklife (Parklife)
It's got nothing to do with your Vorsprung durch Technik, you know
Parklife (Parklife)
And it's not about you joggers who go 'round and 'round and 'round and 'round and 'round
Parklife (Parklife)

All the people
So many people
And they all go hand in hand
Hand in hand through their parklife
All the people
So many people
And they all go hand in hand
Hand in hand through their parklife

A mancha humana, de Philip Roth

Março 28, 2025

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- Eu fui deitar água fora e ele foi direito à porta e saiu para as árvores. Passados minutos, tinham chegado três ou quatro gralhas que o cercaram na árvore. Pareciam doidas. Perseguiam-no. Batiam-lhe nas costas. Guinchavam. Atiravam-se a ele, eu sei lá. Chegaram em poucos minutos. Ele não tem a voz adequada. Não conhece a linguagem das gralhas. Lá fora não gostam dele. Acabou por descer e vir ter comigo, porque eu me encontrava lá. Se não fosse isso, tê-lo-iam morto.
 
- É o resultado de ter sido criado entre nós - disse Faunia. - É o resultado de passar toda a vida com pessoas como nós. A mancha humana - acrescentou, mas sem repulsa, desprezo ou condenação. Nem sequer com tristeza. As coisas são como são - à sua maneira seca e concisa, era só isso que ela estava a dizer à rapariga que dava de comer à serpente: nós deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. Impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen. Não há outra maneira de estar aqui. Não tem nada a ver com desobediência. Nem com graça, ou salvação, ou redenção. Está em todos. Sopro interior. Inerente. Determinante. A mancha que existe antes da sua marca. Sem o sinal de que está lá. A mancha que é tão intrínseca que não precisa de uma marca. A mancha que precede a desobediència, que engloba a desobediência e confunde toda e qualquer explicação e compreensão. É por isso que toda a purificação é uma anedota. E uma anedota bárbara, ainda por cima. A fantasia da pureza é aterradora. É demencial. O que é a ânsia de purificar senão impureza. Tudo quanto estava a dizer acerca da mancha era que ela é inelutável. Essa era, naturalmente, a visão de Faunia a esse respeito: as criaturas inevitavelmente manchadas que nós somos. Resignada com a horrível imperfeição elementar. Ela é como os Gregos, como os Gregos de Coleman. Como os seus deuses. Eles são mesquinhos. Brigam. Lutam. Odeiam. Assassinam. Fodem. Zeus não quer fazer outra coisa senão foder - deusas, mortais, bezerras, ursas -, e não apenas na sua própria forma, mas também, ainda mais excitantemente, assumindo a forma visível de animal. Para montar colossalmente uma mulher como um touro. Para a penetrar excentricamente como um cisne branco de asas agitadas. Nunca há carne suficiente para o rei dos deuses, nem carne nem perversidade. Toda a loucura que o desejo gera. A devassidão. A depravação. Os prazeres mais grosseiros. E a fúria da esposa que tudo vê. Não o deus hebraico, infinitamente só, infinitamente obscuro, monomaniacamente o único deus que existe, existiu e jamais existirá, sem nada melhor para fazer do que preocupar-se com os judeus. Nem o perfeitamente dessexuado homem-deus cristão, e a sua mãe imaculada, e toda a culpa e vergonha que uma espiritualidade sublime inspira. Antes, o Zeus grego, enredado em aventuras, vivamente expressivo, caprichoso, sensual, exuberantemente ligado à sua própria existência opulenta, tudo menos só e tudo menos oculto. Antes a mancha divina. Uma grande religião reflectora da realidade para Faunia Farley se, por intermédio de Coleman, ela tivesse aprendido alguma coisa a esse respeito. Pelos padrões da fantasia hubrística, feita à imagem de Deus, sem dúvida, mas não do nosso: do deles. Deus devasso. Deus corrupto. Um deus da vida, se algum houve. Deus à imagem do homem.
 
- Sim, acho que é essa a tragédia de seres humanos criarem gralhas - respondeu a rapariga, sem compreender inteiramente o significado das palavras de Faunia, mas também sem que lhe passasse completamente despercebido. - Elas não reconhecem a sua própria espécie. Ele, o Príncipe. não reconhece. E devia reconhecer. Chama-se marca. Ele é na realidade uma gralha
 
excerto de A mancha humana, de Philip Roth (Dom Quixote)

Uma barragem contra o Pacífico, de Margurite Duras

Março 26, 2025

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O grande acontecimento da sua vida fora a estrada. Viera para a sua construção. Tinham-lhe dito: “Tu, que és surdo, devias ir trabalhar na construção da estrada de Ram”. Fora contratado logo nos primeiros dias. O trabalho consistia em desbravar, terraplanar, calcetar e alisar com pilões manuais, o trabalho da estrada. Teria sido um trabalho como qualquer outro, se não tivesse sido efectuado, noventa por cento, por forçados e vigiado pelas milícias indígenas que, normalmente, estavam encarregadas da vigilância dos presos da colónia. Esses forçados, esses grandes criminosos, “descobertos” pelos brancos a modos de cogumelos, eram condenados a pena perpétua. Por isso, faziam-nos trabalhar dezasseis horas por dia, acorrentados uns aos outros, em grupos de quatro, em filas cerradas. Cada fila era vigiada por um miliciano fardado com o uniforme da chamada “milícia indígena para indígenas”, outorgado pelos brancos. Ao lado dos forçados havia os contratados, como o capataz. Se a princípio ainda se fazia uma certa distinção entre forçados e contratados, tal distinção acabou por se atenuar insensivelmente, salvo que os forçados não podiam ser despedidos e os contratados podiam sê-lo. Que os forçados eram alimentados e os contratados não. E que, finalmente, os forçados tinham a vantagem de não terem mulher, ao passo que os contratados tinham as suas, que os seguiam, instaladas em acampamentos volantes, atrás dos terrenos em construção, sempre grávidas e sempre esfomeadas. Os milicianos desejavam ter contratados para poderem ter mulheres à mão, mesmo quando trabalhavam durante meses na floresta, a muitos quilómetros de distância das primeiras aldeias. Ademais, as mulheres, tal como os homens e as crianças, morriam de paludismo num ritmo suficientemente rápido, para permitir aos milicianos (os quais tinham rações de quinino, sem dúvida a fim de preservar a existência da sua autoridade, que de dia para dia se tornava mais firme e mais imaginativa) poderem variar com frequência.

Deste modo, fora em grande parte por causa da mulher que o capataz, se bem que muito surdo, aguentara aquilo. E também porque, desde os primeiros dias do seu contrato, movido por uma certa manha ainda intacta, compreendera que o seu interesse residia em fundir-se o mais possível com os forçados e, insensivelmente, fazer esquecer aos milicianos a sua condição aleatória de contratado. Ao fim de alguns meses, aqueles tinham-se habituado a tal ponto a ele, que já o acorrentavam distraidamente com os outros forçados, batiam-lhe como batiam aos forçados e nunca teriam pensado em despedi-lo, tal como se fazia com os autênticos grandes criminosos. Durante esse tempo, a mulher do capataz, como todas as mulheres dos contratados, paria incessantemente, e sempre e apenas dos próprios milicianos, pois que dezasseis horas de calcetagem debaixo de cacete e do sol retiravam, tanto aos contratados, como aos forçados, toda e qualquer faculdade de iniciativa, mesmo a mais natural. Apenas um dos seus filhos sobrevivera à fome e ao paludismo, uma rapariga, que o capataz conservava em sua companhia. Quantas vezes, no espaço de seis anos, a sua mulher dera à luz, no meio da floresta, por entre o trovejar dos malhos e dos machados, os berros dos milicianos e o estalar do seu chicote? - ela já não o sabia muito bem. O que sabia, é que nunca deixara de estar grávida dos milicianos e que era o marido que se levantava a meio da noite, a fim de cavar as pequenas tumbas para os seus filhos mortos.

excerto de Uma barragem contra o Pacífico, de Margurite Duras (Editorial Minierva)

The century of the self

Março 14, 2025

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The legacy of famed psychoanalyst Sigmund Freud informs the lives of people throughout the world even to this day, though it's a phenomenon to which most are unaware. The Century of the Self, written and produced by Adam Curtis, is an exhaustive examination of his theories on human desire, and how they're applied to platforms such as advertising, consumerism and politics. This four-hour odyssey is divided into four distinct segments.

Happiness Machines. The first episode concerns Edward Bernays, Freud's nephew and one of the most influential pioneers in public relations. Appealing to what his uncle believed were the aggressive and prurient forces hidden inside of all mankind, Bernays manipulated these inner desires to promote group thinking - first in drumming up the patriotic support of U.S. citizens during World War I and later in the realm of advertising.

The Engineering of Consent. Perhaps the darkest illustration of Freud's philosophy can be found in Nazi Germany during the Second World War. The film's second segment recounts the efforts of Bernays and Freud's daughter Anna, who collaborated alongside the American government to devise methods for suppressing the barbaric potential of the human mind. It was only through these activities, the government believed, that a harmonious democracy would be possible.

There is a Policeman Inside All of Our Heads, He Must Be Destroyed. Segment three takes place during a vastly different period of American history: the 1960s. As dissenters of Freud began to come to prominence, so too did a younger generation who were determined to fully embrace and flaunt their inner desires. Following on their lead, corporations and their advertisers morphed their message from one of conformity to a celebration of the individual. In so doing, they showed that the tenants of Freud's theories could be successfully manipulated regardless of the temperature of the times.

Eight People Sipping Wine In Kettering. The final section takes us full throttle into the universe of politics. During the 1990s, in a desperate measure to regain the White House, the Democratic Party enlisted the assistance of Matthew Freud, a public relations expert and the great-grandson of Sigmund. With a determined reliance on focus groups, the party recalibrated their campaigns to fulfill the innermost desires of the American people. Shortly thereafter, Bill Clinton became the 42nd President of the United States.

Whether these tactics were employed for reasons of nobility or perversion is for viewers to decide. Regardless, The Century of the Self unlocks many essential human truths; chiefly, our vulnerability to influence and our need to be controlled.

https://topdocumentaryfilms.com/the-century-of-the-self/

 

A ouvir

Março 12, 2025

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Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.


Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.


Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:


Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

 

 

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