15.10.25

O medo perante a nova realidade que se nos abriu, para a qual não estamos preparados e diante da qual somos impotentes, e por isso a melhor defesa, segundo nos parece, é criar pequenos cubos não do passado, mas dos nossos mitos. Fomos lançados da nossa própria história para o tempo comum. A princípio parecia-nos que sería fácil inserir-nos nesse mundo. A consciência das massas tinha esperanças, teremos as mesmas montras, os mesmos armazéns. Os intelectuais pensavam que assim, de passagem, ficariam ao nível da elite mundial. Mas verificou-se que nada era assim tão fácil. Que esse é um enorme trabalho, que exige pessoas livres, que nós não éramos, e pensamento livre, que não tínhamos. E não caminhámos para o mundo, antes nos afastámos dele.
excerto de O fim do homem soviético, de Svetlana Aleksievitch (Porto Editora)



