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Leituras Improváveis

um registo digital

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Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business

Maio 19, 2025

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Because the television commercial is the single most voluminous form of public communication in our society, it was inevitable that Americans would accommodate themselves to the philosophy of television commercials. By "accommodate," I mean that we accept them as a normal and plausible form of discourse. By "philosophy," I mean that the television commercial has embedded in it certain assumptions about the nature of communication that run counter to those of other media, especially the printed word. For one thing, the commercial insists on an unprecedented brevity of expression. One may even say, instancy. A sixty-second commercial is prolix; thirty seconds is longer than most; fifteen to twenty seconds is about average. This is a brash and startling structure for communication since, as I remarked earlier, the commercial always addresses itself to the psychological needs of the viewer. Thus it is not merely therapy. It is instant therapy. Indeed, it puts forward a psychological theory of unique axioms: The commercial asks us to believe that all problems are solvable, that they are solvable fast, and that they are solvable fast through the interventions of technology, techniques and chemistry. This is, of course, a preposterous theory about the roots of discontent, and would appear so to anyone hearing or reading it. But the commercial disdains exposition, for that takes time and invites argument. It is a very bad commercial indeed that engages the viewer in wondering about the validity of the point being made. That is why most commercials use the literary device of the pseudo-parable as a means of doing their work. Such "parables" as The Ring Around the Collar, The Lost Traveler's Checks and The Phone Call from the Son Far Away not only have irrefutable emotional power but, like Biblical parables, are unambiguously didactic. The television commercial is about products only in the sense that the story of Jonah is about the anatomy of whales, which is to say, it isn't. Which is to say further, it is about how one ought to live one's life. Moreover, commercials have the advantage of vivid visual symbols through which we may easily learn the lessons being taught. Among those lessons are that short and simple messages are preferable to long and complex ones; that drama is to be preferred over exposition; that being sold solutions is better than being confronted with questions about problems. Such beliefs would naturally have implications for our orientation to political discourse; that is to say, we may begin to accept as normal certain assumptions about the political domain that either derive from or are amplified by the television commercial. For example, a person who has seen one million television commercials might well believe that all political problems have fast solutions through simple measures - or ought to. Or that complex language is not to be trusted, and that all problems lend themselves to theatrical expression. Or that argument is in bad taste, and leads only to an intolerable uncertainty. Such a person may also come to believe that it is not necessary to draw any line between politics and other forms of social life. Just as a television commercial will use an athlete, an actor, a musician, a novelist, a scientist or a countess to speak for the virtues of a product in no way within their domain of expertise, television also frees politicians from the limited field of their own expertise. Political figures may show up anywhere, at any time, doing anything, without being thought odd, presumptuous, or in any way out of place. Which is to say, they have become assimilated into the general television culture as celebrities.

livro escrito por Neil Postman disponível aqui

 

 

Pipocas com telemóvel, de David Marçal e Carlos Fiolhais

Abril 04, 2025

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Em 1981 o criacionismo estava bem embalado e a ganhar terreno como tema científico nos Estados Unidos. Nesse ano uma lei do estado do Arkansas passou a obrigar a que, nas escolas públicas, fosse dedicado o mesmo tempo às "ciências da criação" que à teoria da evolução. Os conteúdos programáticos das "ciências da criação" estavam definidos na própria lei, não se fosse dar o caso de algum professor de ciências não as conhecer. Segundo este programa, o Universo, a energia e a vida teriam sido criados a partir do nada, a geologia da Terra deveria ser explicada pela ocorrência de um grande dilúvio global, os homens e os macacos teriam uma descendência distinta e a idade da Terra seria qualquer coisa entre 5700 e os 10000 anos. Podemos imaginar o embaraço de um pobre professor, que depois de falar da evolução apresentando as suas avassaladoras provas (registo fóssil, evolução das bactérias e resistência a antibióticos, etc.), começa por dizer na segunda parte da aula: "e, agora, vamos aos disparates obrigatórios por lei". E não deixa de ser fascinante a relação intíma entre a lei e a ciência nalguns sítios dos Estados Unidos.

Esta lei foi bastante contestada por vários grupos de pais, biólogos e congregações religiosas, que moveram uma acção judicial contra o Conselho de Educação do Estado do Arkansas. Em causa estava a violação de uma disposição constitucional, segundo a qual os estados norte-americanos não podem favorecer nenhuma religião. Um ano depois de ser aprovada, a lei, que, segundo os seus defensores, tinha como objectivo garantir o tratamento equilibrado entre a "ciência da criação" e a evolução, foi revogada. O juiz entendeu, e muito bem, que não havia equilíbrio possível, pois as "ciências da criação" não são ciência, mas sim convicções religiosas. Segundo esta decisão do juiz William Overton (1939-1987), no caso que ficou conhecido como "McLean versus Arkansas", as características da ciência são estas:

1. é guiada por leis naturais;

2. tem que ser explicável de acordo com leis naturais;

3. tem que ser verificável no mundo empírico;

4. as suas conclusões são provisórias e não necessariamente a palavra final;

5. pode ser refutada.

Como é evidente, as "ciências da criação" não cumprem nenhum destes requisitos. Por exemplo, ideias como uma criação a partir do nada ou o grande dilúvio descrito no Génesis exigem a intervenção de uma entidade sobrenatural. Como já vimos, é absolutamente impossível conciliar as observações na Natureza com os acontecimentos mágicos da criação. O estudo da geologia da Terra mostra claramente que esta tem muito mais de 10000 anos (terá cerca de 45 mil milhões). A criação não é revista e melhorada face a novas observações ou resultados experimentais. Essa ideia não é refutável, é dogmática. Podemos ter fé e acreditar na criação divina, mas a criação não é ciência e não pode, por isso, ser ensinada nas aulas de ciência.

excerto de Pipocas com telemóvel, de David Marçal e Carlos Fiolhais (Gradiva)

Piss on you

Fevereiro 25, 2025

Já não me recordo ipsis verbis, nem de onde li, mas rezava qualquer coisa como:

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Você têm um vício, do qual retira muito prazer: gosta de fumar.

Porém, o seu prazer vem acompanhado de um resíduo: este fumo que nos envolve.

Eu também tenho um vício, do qual retiro bastante prazer: gosto de beber umas cervejas.

No entanto, o meu prazer gera um resíduo: a urina.

Você gostaria que lhe mijasse em cima?

 

O descontentamento da democracia, de Michael Sandel

Dezembro 04, 2024

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Em 2020, Joe Biden tornou-se o primeiro candidato democrata nomeado para presidente em trinta e seis anos sem um diploma de uma universidade da Ivy League. O facto de um candidato democrata à presidência, vindo de uma universidade estatal, ter sido uma tal novidade mostra como o preconceito credencialista se tinha generalizado.
 
Na década de 2010, o preconceito credencialista encontrou expressão em vastas disparidades na despesa com a educação e na representação política. O país desinveste lamentavelmente nas formas de aprendizagem de que a maioria dos norte-americanos depende para se preparar para o mundo do trabalho - escolas estatais, escolas comunitárias de dois anos e formação profissional e técnica. Isabel Sawhill, economista da Brookings Institution, calculou que, em 2014, o governo federal gastou 162 mil milhões de dólares por ano a ajudar as pessoas a frequentar a universidade, contra apenas cerca de 1,1 mil milhões em formação profissional e técnica.
 
Esta diferença gritante não restringe apenas as oportunidades de quem não pode pagar ou não aspira a um grau de formação de quatro anos, também reflete as prioridades meritocráticas de quem governa. Embora a maioria dos norte-americanos não tenha uma licenciatura, são raros os eleitos para o Congresso norte-americano nessa situação. Noventa e cinco por cento dos membros da Câmara e todos os senadores têm formação superior. Mais de metade dos senadores e mais de um terço dos membros da Câmara são advogados e muitos outros possuem graus académicos avançados. Mais de metade dos membros do Congresso são milionários. Não tem sido sempre assim. Os licenciados e doutores sempre estiveram desproporcionadamente representados no Congresso, mas ainda em meados dos anos 80, 15% dos membros da Câmara e 12% dos senadores não possuíam curso universitário.
 
Uma consequência da maré credencialista é a classe trabalhadora estar hoje praticamente ausente do governo. Nos Estados Unidos, cerca de metade da força de trabalho está empregada no trabalho manual e na indústria de serviços. Mas menos de 2% dos membros do Congresso tinham tais empregos antes da sua eleição. Nas legislaturas estaduais, apenas 3% provêm da classe trabalhadora.
 
Os eleitores brancos da classe trabalhadora que apoiaram Trump não foram os únicos norte-americanos mal servidos pelo enfoque meritocrático no ensino superior como solução para os seus problemas. Os trabalhadores das comunidades de cor também foram negligenciados por um projeto político que dá pouco apoio e estima social àqueles que aspiram a empregos que não requerem um diploma universitário. O representante James Clyburn, da Carolina do Sul, o afro-americano de maior destaque no Congresso, fez uma crítica devastadora à viragem meritocrática do seu partido. Clyburn, cujo apoio a Biden nas primárias de 2020 da Carolina do Sul salvou a candidatura de Biden, pondo-o no caminho para a nomeação, viu Biden como uma alternativa a esse credencialíssimo indulgente que afastara os trabalhadores do Partido Democrata.
 
«O nosso problema», disse Clyburn, «é que demasiados candidatos passam o tempo a tentar que as pessoas saibam como são inteligentes, em vez de tentarem ligar-se às pessoas.» Clyburn achava que os democratas tinham dado demasiada ênfase à educação universitária. «O que significa quando um candidato diz: "Precisa de ser capaz de enviar os seus filhos para a faculdade?" Quantas vezes já ouviu isso? Detesto ouvir isso Não preciso de ouvir isso. Porque temos pessoas que querem ser eletricistas, que querem ser canalizadores, que querem ser barbeiros. Embora não o tenha dito dessa forma, Clyburn estava a manifestar-se contra o projeto político meritocrático que, involuntariamente, afastara os eleitores da classe trabalhadora e aberto o caminho para Trump.
 
Em 2020, a «divisão do diploma» estava a fazer-se sentir para lá da classe trabalhadora branca. Embora Biden tenha mantido a maioria tradicional dos democratas entre os eleitores negros e latinos, Trump ganhou entre os eleitores de cor sem grau académico. Pela primeira vez, o candidato democrata obteve melhores resultados entre os eleitores de cor com diplomas universitários do que entre aqueles com escolaridade básica.
 
Ver as formas meritocráticas de pensar o sucesso como o parceiro moral para a globalização impulsionada pelas finanças ajuda-nos a compreender a reação política contra as elites diplomadas. Durante quatro décadas, a fé do mercado e a fé meritocrática, consideradas em conjunto, formaram o projeto definidor da política norte-americana dominante. O capitalismo neoliberal tornou algumas pessoas ricas e outras pobres, mas a meritocracia criou a divisão entre vencedores e vencidos. E foi esta divisão, e não apenas a desigualdade de rendimentos, que deu origem à humilhação que Trump e outros populistas autoritários foram capazes de explorar.
 
excerto de O descontentamento da democracia, de Michael Sandel (Presença)

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