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Leituras Improváveis

um registo digital

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Os jogadores de xadrez

Maio 27, 2025

300px-Almada_Negreiros,_Retrato_de_Fernando_Pessoa

 

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.


À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário,
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.


Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Trespassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo do xadrez.


Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao reflectir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.


Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.


Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
É ainda entregue ao jogo predilecto
Dos grandes indiferentes.


Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida,
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.


Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.


Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.


O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.


A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.


Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez,
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá por fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

O sr. Koslowski falta à manifestação

Abril 24, 2025

barreto guimalskdjfasdf.jpeg

 


Se o sofá não
fosse cómodo (e a rua não fosse
tão longe) juro
que ergueria o peso imenso da alma
e ia à
manifestação. Desta vez juro que iria. Mas
do que posso ajuizar (pelas
imagens em directo) chegaria atrasado
já lá estão os companheiros
(com
palavras levantadas) lutando por eles
e por mim. Menos um não faz diferença. Mas
juro que irei partilhar (daqui
deste meu sofá) o
texto do comunicado e
quando ouvir no ecrã o cinismo do ministro
juro que o
vou insultar. Daqui deste meu sofá.
Desta vez
estou empenhado

excerto de Claridade, de João Luís Barreto Guimarães (Quetzal)

 

Matrioskas / Mise en abyme (riscar o que não interessa)

Janeiro 24, 2025

matrioskas.jpg

 

ORIGINAL

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de

Londres pra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar

a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!

 

excerto de Obra perfeitamente incompleta, de José Sesinando (Tinta-da-China, página 185)

My Therapist Said (Poems), by Hal Sirowitz

Dezembro 03, 2024

psi.jpg

Lending Out Books

You’re always giving, my therapist said.
You have to learn how to take. Whenever
you meet a woman, the first thing you do
is lend her your books. You think she’ll
have to see you again in order to return them.
But what happens is, she doesn’t have the time
to read them, & she’s afraid if she sees you again
you’ll expect her to talk about them, & will
want to lend her even more. So she
cancels the date. You end up losing
a lot of books. You should borrow hers.

 

from My Therapist Said, by Hal Sirowitz

Ode on a Distant Prospect of Eton College , by Thomas Gray

Outubro 18, 2024

Who was Thomas Gray

 

To each his suff'rings: all are men,
         Condemn'd alike to groan,
The tender for another's pain;
         Th' unfeeling for his own.
Yet ah! why should they know their fate?
Since sorrow never comes too late,
         And happiness too swiftly flies.
Thought would destroy their paradise.
No more; where ignorance is bliss,
       'Tis folly to be wise.
 

Balde do lixo

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