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Leituras Improváveis

um registo digital

Leituras Improváveis

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Os perigos da percepção, de Bobby Duffy

Abril 10, 2025

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Inocular contra a ignorância

Estamos a 12 de Abril de 1955, dez anos antes da morte do presidente Roosevelt, a mais famosa das vítimas da poliomielite. Estamos na Universidade do Michigan à espera de saber os resultados do teste do Dr. Jonas Salk à vacina contra a poliomielite.
 
Na sala estão 500 pessoas, entre elas 150 da comunicação social, além de 16 câmaras de televisão, algumas delas transmitindo os resultados a 54 mil médicos sentados em cinemas por todo o país. As pessoas ouvem a reportagem na rádio, tanto nos EUA como no resto do mundo; os resultados são difundidos pelos altifalantes das lojas e os juízes suspenderam os julgamentos para que as pessoas possam ouvir. O especialista em vacinas Paul Offit escreveu:
 
A apresentação foi maçadora, mas os resultados inequívocos a vacina funcionou. No interior do auditório, os americanos abraçaram-se, com lágrimas de felicidade nos olhos, [...] os sinos repicaram por todo o pais, as fábricas cumpriram minutos de silêncio, nas sinagogas e igrejas as pessoas reuniram-se para rezar, pais e professores choraram. "Era como se tivesse acabado uma guerra", comentou um observador.
 
Salk recebeu uma medalha de ouro do presidente Eisenhower e, em 1985, Ronald Reagan proclamou o [dia 6 de Maio] o "Dia do Dr. Jonas Salk". Ao não patentear a vacina, Salk assegurou o impacto da sua descoberta (e subsequentes aperfeiçoamentos). Inquirido sobre quem detinha a patente, respondeu: "Bom, eu diria que as pessoas. Não há patente. É possível patentear o sol?".
 
Avancemos a toda a velocidade até ao presente. O contraste entre estas cenas e a forma como são vistos por um sector da sociedade os que hoje em dia desenvolvem vacinas não podia ser mais gritante. Paul Offit é também o inventor da vacina contra o rotavirus, concebida para travar uma doença que mata 600 mil crianças por todo o mundo. É ainda o autor de Autism's False Prophets e um defensor da segurança vacinal. Offit recebe regularmente cartas insultuosas e ameaças de morte.
 
Como é que, vindos dali, chegámos aqui? A história é fascinante para aqueles que estudam as teorias da conspiração e como a desinformação (misinformation) se apodera de nós. E o fenómeno é global.
 

excerto de Os perigos da percepção, de Bobby Duffy (Zigurate)

 

Técnicas da indústria de relações públicas

Janeiro 17, 2025

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Edward Bernays

 

Desacreditar o adversário

Advogar servir o interesse geral

Colocar a ciência no seu bolso

Dar a impressão de ter a opinião geral do seu lado

Amedontrar o consumidor

Utilizar manobras de diversão

Transformar o chumbo em ouro

Trazer para a causa decisores e peritos

Influenciar jornalistas

adaptado de Propagande, la manipulation de masse dans le monde contemporain, de David Colon (Belin)

 

 

Telenovela, Indústria & Cultura, Lda., de Eduardo Cintra Torres

Outubro 04, 2024

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O bisavô da telenovela chama-se folhetim

As narrativas longas, com muitas personagens, impossíveis de consumir num só dia, têm milhares de anos. A que mais revela o gosto dos receptores por esse modelo é As Mil e Uma Noites, uma criação colectiva em árabe, compilada a partir do século XI. Sherazade arrisca a vida para terminar com a loucura do sultão, que traído pela mulher, decidira deitar-se todas as noites com uma virgem e mandá-la matar no dia seguinte. Sherazade oferece-se como virgem por uma noite, mas começa a encantar o sultão com uma narrativa que não termina nessa primeira noite: pelo contrário, fica em suspenso. E, a cada jornada, repete-se o mesmo modelo até que, mil noites depois, o sultão decidir casar com Sherazade. A narrativa das "mil e uma noites" termina em felicidade. Sherazade, a narradora, conquistou o seu público - o sultão na estória, os ouvintes ou os leitores da estória - através da narrativa contínua, com suspense no fim de cada episódio. A narrativa, a ficção, salva Sherazade.

Esta obra remete-nos também para a literatura oral: não só Sherazade narra, dentro da ficção, directamente para o sultão como os próprios contadores desta história ficcional o fizeram durante séculos. O mesmo sucedeu com as epopeias gregas, chinesas, com as medievais europeias e tantas outras. Não podemos levar longe demais a filiação da telenovela nestas formas antigas, mas apenas sublinhar o gosto inato do ser humano pela audição ao vivo de narrativas longas, complexas na teia de acções e personagens, e com pontos de suspense. São características de que a telenovela se apropria, mas por outra via, a do folhetim. O folhetim surge na primeira metade do século XIX. É uma criação literária da imprensa diária, quer dizer, da primeira indústria cultural de massas, os jornais. Os capítulos ocupavam todo o rodapé do jornal, podendo ser recortados para guardar. Terminavam com um momento de suspense, para levar à leitura - à compra do jornal - no dia seguinte. Muitos autores escreviam à medida da publicação. Alguns alteravam a narrativa de acordo com as sugestões dos leitores. O folhetim, escrito e publicado em letra de forma, tinha, porém, uma dimensão oral, sendo lido em voz alta por grupos populares nas ruas e tascas, e nas salas por famílias burguesas. O folhetim já apresentava, no século XIX, a dimensão de uma indústria cultural: Alexandre Dumas tinha uma oficina de argumentistas que escreviam os folhetins segundo as suas indicações. Também já existia a transmediação, isto é, a passagem de um conteúdo de um medium ou meio para outro, com a publicação do folhetim em livro depois de terminado no jornal. Quando a rádio se afirmou como meio de massas, o folhetim saltou para as ondas hertzianas, primeiro nos EUA, depois por todo o mundo ocidental. Nos EUA, o folhetim na rádio - ou teatro radiofónico, como se chamou em Portugal - nasceu com o cordão umbilical ligado à indústria de detergentes e produtos de higiene, pelo que ficou conhecido como soap opera, "ópera de sabão". Embora sem qualquer relação com a ópera, o conteúdo tinha uma forte carga melodramática, associada às óperas românticas. Da rádio, o folhetim saltou para a fotonovela, para a telenovela e, ainda, no mesmo modelo episódico, para a banda desenhada. No cinema, no início do século XX, houve igualmente novelas, com um episódio semanal com transmutação para os jornais do mesmo grupo editorial que as produzia. Apesar da frequente associação do folhetim ao teatro, as semelhanças são reduzidas. De semelhante há a intensidade dramática e a insistência em núcleos familiares. A telenovela também teve, e tem ainda, uma similitude adicional, resultante de os cenários em estúdio se parecerem com cenários do palco teatral, com três paredes diante do público ou da audiência. A representação de tipo teatral, muito pesada nas primeiras décadas da telenovela, resultante do tipo de diálogos mas principalmente da origem dos actores, foi depois substituída pelo tipo de representação naturalista e, em qualquer caso, o "ar" teatral dos actores existiu noutras formas do audiovisual, quer no cinema quer noutros géneros televisivos.

Apesar de a telenovela ser descendente do folhetim impresso e do teatro radiofónico, essa filiação perdeu-se com a autonomização crescente do género televisivo: a telenovela é como um bisneto que já nada, ou quase nada, sabe sobre o bisavô folhetim, mesmo que partilhem algumas características estruturais: a serialização e a apresentação diária; a profusão de personagens, com presença obrigatória de um par romântico do princípio ao fim, e sua divisão por núcleos familiares de vários extractos sociais; existência de gancho ou cliffhanger, um momento de suspense interrompido no final de cenas ou dos episódios; evolução improvável ou até irrealista de fios narrativos, mas, em simultâneo, uma grande preocupação com o realismo e a verosimilhança das situações; presença acentuada ou centragem em personagens femininas; ligação forte ao público ou audiência; relação umbilical com a indústria mediática em que se insere. 

excerto de Telenovela, Indústria & Cultura, Lda., de Eduardo Cintra Torres (FFMS)

Bienvenue dans l'universe de la stupidité, de Serge Larivée

Junho 28, 2024

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La surprotection des étudiants, même à l'université

En 2001, le ministre de l'Éducation de l'époque, François Legault, avaît lié le financement des universités aux résultats de contrats de performance, ce qui devait se traduire par une augmentation du nombre de diplômés à tous les échelons du cursus universitaire. Résultat de l'initiative: hausse des notes et baisse des exigences. Les "victimes" privilégiées de cette tendance sont les départements de sciences humaines et sociales et les Facultés d'éducation (Gagnon, 2001). Faut-il rappeler que les candidats en éducation dans les universités québécoises doivent réussir un examen de français obligatoire pour être admis dans les Facultés d'éducation, dont le taux d'échec est de 70 %. Qu'à cela ne tienne, les candidats peuvent le reprendre autant de fois que nécessaire. Le phénomène n'est pas nouveau. Dès les années 1990, on constatait dans les universités canadiennes la pauvreté des textes des étudiants. Plusieurs universités ont alors proposé des ateliers d'aide à l'écriture en vue d'améliorer la qualité des travaux.

Mais ce n'est pas tout, le financement des universités est déterminé par le nombre d'étudiants inscrits. Évidemment, celles-ci ont du coup intérêt à accueillir le plus grand nombre d'étudiants possible, particulièrement dans les programmes non contingentés. Que la reprise d'un examen de reprise par un étudiant en échec soit dans certains cas justifiée, cela peut se comprendre. Toutefois, qu'une faculté d'éducation, mais située hors Québec, oblige ses professeurs à donner aux étudiants qui ont échoué un examen, un droit de reprise obligatoire est difficilement justifiable. Devant une telle obligation, quel professeur sain d'esprit osera mettre un étudiant en échec? Pourquoi, en effet, s'assigner du travail supplémentaire? Qu'il faille donner la "chance aux coureurs" j'en suis, mais tous ne peuvent pas gagner et le nivellement par le bas n'est pas une solution gagnante. Dit autrement, si tous peuvent avoir accès à l'université, cela ne signifie pas que tous doivent nécessairement être admis et en sortir avec un diplôme. La baisse des critères d'admission dans certains départements universitaires risque la présence d'étudiants qui ne devraient probablement pas y être.

Quoiqu'il en soit, une fois inscrit à un programme universitaire, la direction a un intérêt financier à les garder dans le système. C'est dans cette optique qu'elle a instauré le règne de "l'étudiant-client", ce que Malo dénonçait déjà en 2002. Puisque par définition un client paie, celui-ci a son mot à dire quant aux services qu'il reçoit. Les professeurs sont alors confrontés à des "clients" et non à des personnes nécessairement soucieuses ou ayant le devoir d'acquérir des connaissances et des outils de réflexion. Par exemple, des étudiants se plaignent de la longueur des textes qu'ils ont à lire, lesquels, dans bien des cas, ne dépassent guère dix pages. Certains professeurs se soumettent alors à l'injonction en indiquant au "client" les paragraphes à lire. 

extrait de Bienvenue dans l'universe de la stupidité, de Serge Larivée (Éditions JFD)

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